sábado, maio 22, 2010

Israel acusa Irã.

Sob os olhares do mundo, o Irã fechou um acordo com o Brasil e a Turquia para enviar parte de seu urânio para o exterior, mudando sua postura de recusar um acordo, enquanto potências ocidentais negociam novas sanções do Conselho de Segurança da ONU contra a República Islâmica.

Para o mundo entender, os principais jornais dos Estados Unidos, Brasil e da Europa repercutiram o acordo fechado entre Brasil, Irã e Turquia para a troca de material do controverso programa nuclear iraniano.

Apesar de desconfiar da eficácia do acordo para diminuir as tensões no Oriente Médio, a imprensa mundial destacou a ascensão dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na diplomacia mundial por conta do fechamento do acordo com o governo de Teerã.

Até o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, chegou a dizer que o Brasil adotou posturas independentes ao negociar com as políticas arrogantes dos Estados Unidos nos últimos anos.

Segundo o jornal americano Los Angeles Times, caso o acordo seja bem-sucedido, será mais um marco na emergência política do Brasil e da Turquia. Os dois países são "duas potências regionais e globais em rápido crescimento que buscam solidificar suas posições com triunfos diplomáticos", disse o jornal.

A mesma opinião tem o New York Times. De acordo com o jornal americano, o acordo pode confirmar o status de potências mundiais de Brasil e Turquia. O país muçulmano, segundo a publicação, tenta se transformar no principal ator político do Oriente Médio.

O New York Times traz ainda a desconfiança de analistas ocidentais a respeito das reais intenções do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Segundo um diplomata ouvido pelo jornal, os 1,2 mil kg de urânio de baixo enriquecimento que o Irã se comprometeu a enviar à Turquia representam pouco mais da metade do estoque do mineral no país.

O britânico The Guardian vai além e cita diplomatas que afirmam que, mesmo com o envio do material à Turquia, o Irã ainda teria em breve estoque suficiente de urânio para construir uma bomba atômica. As autoridades iranianas negam as acusações e alegam que o seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.

O jornal espanhol El País afirma que o Irã encontrou em Lula e Erdogan dois aliados de peso para vencer a disputa diplomática com os Estados Unidos e evitar novas sanções.

Já o The Times afirma que Ahmadinejad teve facilidades para negociar com a Turquia e do Brasil do que com outras potências, devido à confiança entre os três países. De acordo com o jornal britânico, a iniciativa dos dois membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU deve, no mínimo, complicar as tentativas dos Estados Unidos de impor novas sanções econômicas ao Irã.

O acordo celebrado em Teerã prevê que o Irã envie à Turquia 1,2 mil kg de urânio de baixo enriquecimento por urânio enriquecido a 20% para ser usado em pesquisas médicas. Pelo acordo, o urânio enriquecido será remetido no prazo de um ano. Nesse período, haverá supervisão de inspetores turcos e iranianos.

Entretanto, para a União Européia, os detalhes do acordo ainda têm de ser analisados. “Um acordo entre Irã, Turquia e Brasil para uma possível troca de combustível nuclear pode ser um passo na direção certa, disse a Comissão Européia, mas os detalhes ainda precisam ser analisados”, garantiu um porta-voz da EU.

"Temos de esperar pelos detalhes completos do acordo que, embora seja um passo positivo, na direção correta, não lida completamente com todas as questões envolvendo o programa nuclear do Irã”, enfatizou o porta-voz.

O porta-voz disse que a alta representante da UE para assuntos internacionais, Catherine Ashton, está pronta para se reunir com autoridades iranianas para encontrar uma solução "completa" para o impasse envolvendo as atividades de enriquecimento de urânio do Irã.

"Muitas das questões levantadas pelo UE3+3 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia e China) e por membros do Conselho de Segurança ainda precisam ser respondidas", disse o porta-voz.

França e a Alemanha expressaram ceticismo sobre o acordo assinado em Teerã. Berlim disse que, mesmo com a conversa mantida por Lula e Ahmadinejad, é importante o estabelecimento de um acordo entre Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

"Continua sendo importante que Irã e AIEA cheguem a um acordo", declarou o porta-voz adjunto do governo da Alemanha, Christoph Steegmans, que completou: "Isto não pode ser substituído por um acordo com outros países".

Já o ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, preferiu destacar que "progressos bastante importantes" estão sendo obtidos no Conselho de Segurança da ONU a respeito das sanções contra o Irã pelo programa nuclear do país.

Para o chanceler francês a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é quem deve posicionar-se sobre o acordo por Irã, Brasil e Turquia. "Não somos nós que devemos responder. É a AIEA", declarou Kouchner. "Saudamos o acordo e a tenacidade com a qual nossos amigos turcos e brasileiros realizaram as conversações. Sempre é bom falar e sempre é melhor escutar", completou.

Para a Organização do Tratado do Atlético Norte (Otan) o acordo Irã-Brasil-Turquia é “um passo potencialmente positivo para resolver a crise do programa de enriquecimento de urânio iraniano”, segundo o seu comandante-em-chefe na Europa, almirante James Stavridis.

"Acho que é um exemplo do que todos buscamos, um sistema diplomático que vise um bom comportamento por parte do regime iraniano", afirmou o almirante Stavridis.

O almirante Stavridis disse, entretanto, que apesar de ser "um passo potencialmente positivo, obviamente temos milhares de quilômetros a percorrer".

Apesar de ter celebrado o acordo, o Irã disse que vai continuar suas atividades de enriquecimento de urânio a 20%. "Não existe relação entre o acordo de troca e nossas atividades de enriquecimento. Vamos continuar nosso trabalho de enriquecimento de urânio a 20%", disse Ali Akbar Salehi, chefe da Organização de Energia Atômica do Irã.

Salehi afirmou que a assinatura do acordo é uma "prova de boa vontade" e que agora "a bola está no campo” das potências ocidentais, e que “o grupo de Viena (EUA, Rússia e França) deve dar uma resposta adequada à proposta de cooperação do Irã".

Segundo o acordo, o Irã enviará 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para a Turquia. Depois de até um ano, o Irã deverá receber de volta 120 kg de urânio enriquecido a 20%. De acordo com o porta-voz do ministério das Relações Exteriores iraniano, o urânio enriquecido estará sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica na Turquia.

As potências acusam o Irã de esconder deliberadamente informações sobre o programa nuclear e temem que o país esconda intenções militares. O governo de Teerã afirma que o único objetivo do programa é produzir energia, portanto, é um programa pacífico.

O acordo foi recebido com descrença na Europa. A Comunidade Européia afirmou que trata-se de um passo na direção correta. A chancelaria britânica afirmou que sua assinatura não interrompe a busca de sanções contra Teerã. Os jornais internacionais também noticiaram o acordo com ceticismo.

Em outubro do ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs ao Irã que enviasse 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para a França e para a Rússia, onde seria convertido em combustível para um reator de pesquisas em Teerã.

O Irã chegou a concordar com o acordo no início, mas depois impôs condições como a de só trocar seu material por urânio em níveis maiores de enriquecimento e somente no seu próprio território, termos que as outras partes envolvidas no acordo consideraram inaceitáveis.

Até o momento, o único presidente que teve a coragem de se manifestar diretamente, sem mandar que seus assessores falem pelo seu país, foi o presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, que disse estar analisando o acordo, que ainda existem dúvidas.

"Uma questão é: o Irã vai continuar enriquecendo urânio? Até onde eu entendo das autoridades do país, esse trabalho vai continuar. Nesse caso, a preocupação da comunidade internacional continua!", disse Dmitri Medvedev.

O presidente russo afirmou que as potências, incluindo o Irã, devem realizar consultas sobre o acordo de troca de combustível nuclear e então fazer uma "breve pausa" nas negociações. "Depois disso, precisamos decidir o que fazer: essas propostas são suficientes ou é necessário algo mais? Então acho que uma breve pausa não faria mal!", disse enfático Dmitri Medvedev.

"A questão que surge: o nível dessa operação de troca é suficiente? Todos os membros da comunidade internacional ficarão satisfeitos? Eu não sei! Precisamos ver isso após esse acordo", explicou o presidente da Rússia.

Fazendo coro com a Rússia, uma fonte do governo de Israel disse que o governo do Irã “manipulou” Turquia e Brasil ao "simular aceitar" um acordo sobre o enriquecimento de parte de seu urânio na Turquia.

"Os iranianos já fizeram o mesmo no passado, simulando aceitar tal procedimento para reduzir a tensão e os riscos de sanções internacionais agravadas, mas depois se negaram a passar aos atos", declarou a fonte israelense a uma agência internacional de notícias pedindo anonimato.

Já o jornalista brasileiro Marcos Guterman, de O Estado de São Paulo, lembrou que os termos do “acordo” são idênticos aos que as potências ocidentais, a Rússia e a ONU, alcançaram em outubro passado com Teerã, e que depois foi abandonado pelos iranianos. “A diferença é que, em vez da Turquia, era a Rússia que guardaria o urânio iraniano”.

Segundo Guterman, Os objetivos de Teerã são outros: ganhar tempo, explorar a aliança com integrantes temporários do Conselho de Segurança (Brasil e Turquia) e adiar as novas sanções, sem mexer significativamente com seu projeto nuclear.

“Para brasileiros e turcos, por outro lado, o “acordo” é útil porque supostamente lhes dá peso diplomático “global”, que é o que Lula e o premiê turco, Recep Erdogan, buscam reafirmar a cada gesto, mesmo que o tal “acordo” não valha o papel em que está escrito”, enfatizou o jornalista analista de política internacional.

Após a assinatura do acordo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que quer retomar o diálogo com os membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. "Espero que o 5+1 (Reino Unido, EUA, China, Rússia, França e Alemanha) participe das negociações com honestidade, respeito e justiça e dêem sequência ao grande trabalho iniciado em Teerã", disse Ahmadinejad.

ANTONIO CARLOS LACERDA

PRAVDA Ru BRASIL

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