O perfeito idiota americano
No mundo maluco do diretor Oliver Stone, Venezuela e Cuba
são modelos de democracia. E o Brasil é um país bolivariano
Jerônimo Teixeira
BONS COMPANHEIROS
Oliver Stone e Hugo Chávez: unidos contra a "mídia imperialista"
O entrevistador, reverente até o ponto da franca adulação, enaltece a revolução cubana, que teria aberto as portas para a onda irredentista que na última década tem dominado a América do Sul. Raúl Castro responde que isso é exagero, que cada país segue seu próprio rumo – mas que os de Cuba seguirão sob seu tacão. "Estamos prontos para mais cinquenta anos de revolução", anuncia o irmão de Fidel. Narrador, entrevistador e diretor de Ao Sul da Fronteira (South of the Border, Estados Unidos, 2009), em cartaz desde sexta-feira no país, Oliver Stone faz eco ao tirano: disparando tolices pelas ruas de Havana, ele diz que os "bolivarianos" estão renovando a esperança representada pela revolução cubana na luta contra o "capitalismo predatório". O perfeito idiota americano não se contenta com mais meio século de ditadura em Cuba: quer o mesmo para toda a América Latina.
GENTE DO POVO
Evo Morales faz embaixadinhas: peça
de propaganda travestida de documentário
Na colorida trupe bolivariana, Stone inclui o chefão Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, Cristina Kirchner, da Argentina, Fernando Lugo, do Paraguai, e até Lula (você, leitor, deve ter perdido a proclamação oficial, mas Ao Sul da Fronteira não deixa dúvidas: o Brasil é uma nação bolivariana! ). Consumado teórico da conspiração – trata-se, afinal, do diretor de JFK–, Stone se esforça para retratar um consenso maligno da imprensa americana contra esses governos heroicos. Para se contrapor ao jornalismo imperialista, o diretor dedica-se a compor as mais amalucadas ficções. A bagunçada Argentina do casal Kirchner é apresentada como um sucesso econômico, e a Venezuela de Chávez, claro, representa o ápice da democracia. O filme escancara sua verdadeira natureza – não é um documentário, mas uma peça de propaganda – quando se dedica a mostrar que os presidentes bolivarianos são gente do povo. Aparecem aí momentos de comédia involuntária. Chávez pedala uma bicicleta que se quebra sob o peso de sua barriga socialista do século XXI. Evo Morales masca folhas de coca (só para usos ritualísticos indígenas, bem entendido) e faz embaixadinhas. O filme é menos lisonjeiro com Lula, apresentado como um caudatário timorato de Hugo Chávez. Este sim, para Oliver Stone, é que é "o cara".
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