Ella Davies
Da BBC News
Para pesquisadores, degelo vem obrigando ursos a nadar distâncias maiores
Um urso polar nadou continuamente por nove dias, cobrindo uma distância de 687 quilômetros, em busca de gelo, segundo identificou uma pesquisa de zoólogos americanos.
Os pesquisadores, que estudavam os ursos polares no entorno do mar de Beaufort, no norte do Alasca, afirmam que o feito pode ser um resultado do degelo provocado pelas mudanças climáticas.
Os ursos polares são conhecidos por nadar entre a terra e icebergs para caçar focas. Mas os pesquisadores dizem que o crescente degelo nos polos está levando os animais a nadar distâncias cada vez maiores, arriscando as suas próprias saúdes e as das futuras gerações.
No estudo, publicado na última edição da revista especializada Polar Biology, os pesquisadores da agência geológica americana (USGS, na sigla em inglês) revelam a primeira evidência concreta de ursos polares nadando longas distâncias.
“Esse urso específico nadou continuamente por 232 horas e 687 quilômetros, em águas com temperaturas entre 2 e 6 graus Celsius”, afirma o zoólogo George M.Durner, um dos autores da pesquisa.
“Estamos impressionados com o fato de que um animal que passa a maior parte de seu tempo na superfície do mar congelado pudesse nadar constantemente por tanto tempo em águas tão frias. É realmente um feito incrível”, diz.
Viagem seguida
Apesar de ursos polares já terem sido observados em mar aberto no passado, esta é a primeira vez que a viagem completa foi seguida.
Com a ajuda de um colar com GPS colocado na fêmea de urso, os pesquisadores foram capazes de acompanhar com precisão seus movimentos ao longo de dois meses, conforme o animal buscava locais para caça.
Os cientistas foram capazes de determinar quando o urso estava na água pelos dados do colar e por um registrador de temperaturas instalado debaixo da pele do animal.
O estudo mostra que a viagem épica teve um alto custo para o urso. “Este animal perdeu 22% de sua gordura corporal e seu filhote de um ano”, relata Durner.
“Foi simplesmente mais custoso energeticamente para o filhote do que para o urso adulto nadar toda essa distância”, afirma.
Espécie ameaçada
Deslocamentos longos podem ser prejudiciais à saúde dos animais
Durner afirmou à BBC que as condições no mar de Beaufort têm ficado cada vez mais difíceis para os ursos polares.
“Nas décadas passadas, até 1995, o gelo marítimo de baixa concentração se mantinha durante os verões na plataforma continental do mar de Beaufort. Isso significa que as distâncias, e os custos para os ursos, de nadar entre icebergs isolados ou entre o mar congelado e a terra eram relativamente pequenos”, diz.
“O derretimento mais longo no verão que parece ser típico agora no mar de Beaufort provavelmente aumentou o custo desse deslocamento para os ursos polares”, afirma.
Os ursos polares vivem no Círculo Polar Ártico e se alimentam de focas, com alta concentração de calorias, para sobreviver às condições climáticas locais.
Os ursos caçam suas presas sobre o mar congelado, um habitat que muda de acordo com a temperatura.
“Essa dependência do gelo no mar potencialmente torna os ursos polares um dos mamíferos grandes mais vulneráveis às mudanças climáticas”, afirmou Durner.
A União Internacional para Proteção da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) lista os ursos polares como espécie ameaçada, citando as mudanças climáticas globais como uma “ameaça considerável” ao seu habitat.
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