Por ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA.RU
SÃO PAULO-BRASIL - Ricardo Teixeira, o chefão do futebol brasileiro, havia dito em entrevista à Revista Piauí, em julho, que só começaria a ficar preocupado com críticas quando o Jornal Nacional, da TV Globo, noticiasse algo negativo.
Semana passada, a TV Globo divulgou carta de princípios jornalísticos em que destacava, em capítulo dedicado à isenção, que "não deve haver assuntos tabus", exibiu reportagem com denúncias contra Ricardo Teixeira.
O Jornal Nacional apresentou reportagem de 3 minutos destacando que a polícia investiga suposta irregularidade no contrato de realização do amistoso entre Brasil 6 a 2 Portugal, ocorrido em 2008.
Empresa destacada pelo presidente da CBF para promover o amistoso, Ailanto Marketing, foi criada um mês antes do jogo e sequer tinha telefone. O jogo custou R$ 9 milhões ao governo do Distrito Federal.
O Jornal Nacional destacou que policiais civis de Brasília cumpriram mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, sede da empresa que promoveu o amistoso.
A reportagem acrescenta que o contrato entre a Ailanto, CBF e Governo do Distrito federal não poderia ser firmado, já que os R$ 9 milhões deveriam ser arcados pela empresa contratada (Ailanto) e não pelos cofres públicos.
A matéria do Jornal Nacional ocorre sete dias após a divulgação do manifesto de princípios e pouco mais de um mês depois do perfil sobre Ricardo Teixeira publicado pela revista "Piauí". Nele, Teixeira relata um episódio que, em sua análise, interrompeu as reportagens da Globo contra sua gestão na CBF.
Em 2001, durante a CPI da Nike, um Globo Repórter fez denúncias contra Teixeira. Pouco depois, a CBF marcou um jogo entre Brasil e Argentina para as 19h45. "Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?", disse Teixeira à Piaui.
"Como a Globo transmitiu a partida, amargou o prejuízo de deixar de mostrar diversos anúncios no horário nobre, o mais caro da programação. A partir daí, não houve mais reportagens desagradáveis sobre o presidente da CBF na Globo", escreveu a revista.
O portal Globo.com, assim como o UOL, destacou a manifestação ocorrida na Avenida Paulista, em São Paulo, contra Ricardo Teixeira. Pelo menos 300 pessoas protestaram contra o dirigente, queimando um boneco simbolizando o chefão do futebol brasileiro.
Alvo de intensas críticas na mídia, Ricardo Teixeira disse à "Piauí" que estava "cagando" para a imprensa. O dirigente declarou que seus principais críticos, entre os quais o UOL, são lidos por poucas pessoas, e que só ficaria preocupado quando o Jornal Nacional desse algo de negativo.
"Esse UOL só dá traço. Quem lê o Lance? Oitenta mil pessoas? Traço. Quem vê essa ESPN? Traço", disse Teixeira à revista Piauí. "Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional". "Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito com a Globo". Teixeira complementou dizendo que deixará a CBF em 2015 e que todas as acusações serão esquecidas.
Doze policiais civis do Distrito Federal estiveram no Rio de Janeiro para investigar fraudes na contratação do um amistoso da seleção brasileira contra Portugal, em novembro de 2008. A partida, vencida pelo Brasil por 6 a 2, aconteceu no Gama, cidade-satélite de Brasília.
A polícia esteve na capital fluminense para fazer uma busca na sede da empresa Ailanto Marketing, no Leblon, bairro nobre da cidade. A empresa foi a organizadora da festa, que custou R$ 9 milhões ao governo do Distrito Federal.
De acordo com as investigações da polícia, a Ailanto iniciou suas atividades pouco mais de um mês antes da realização do amistoso. A polícia diz ainda que a empresa não possui sequer telefone fixo e tinha um capital social de apenas R$ 800.
A Ailanto é de propriedade do espanhol Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona e parceiro da CBF em uma série de operações. Durante a Copa América na Argentina, Rosell era figura fácil ao lado de Ricardo Teixeira.
Em julho deste ano, o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem relatando um negócio obscuro entre Teixeira, a empresa aérea TAM e Ailanto. Na transação, o presidente da CBF adquiriu um jato particular dando como parte do pagamento uma aeronave que não era sua - pertencia à Cessna, que representa a TAM no Brasil.
As autoridades policiais de Brasília têm provas de que a Ailanto teve permissão de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, para negociar diretamente com o governo local. De acordo com a investigação, a procuradoria do Distrito Federal vetou o gasto público com o jogo. Documento mostrado no Jornal Nacional, da TV Globo, mostra que a procuradoria considerou "imprestáveis" os motivos que justificavam o valor do evento.
Só que o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, ignorou a decisão. Em março de 2010, ele acabou cassado por envolvimento com o escândalo do mensalão do DEM de Brasília.
De acordo com outro documento mostrado pela TV Globo, a polícia afirmou que o amistoso causou um rombo de R$ 9 milhões aos cofres públicos. Segundo a polícia, as despesas de custeio do espetáculo - que eram de responsabilidade da Ailanto Marketing - foram pagas pela Federação Brasiliense de Futebol. O presidente da entidade, à época, era Fábio Simão - que foi também chefe de gabinete de José Roberto Arruda.
A polícia afirma que, para negociar com o governo do Distrito Federal, a Ailanto Marketing obteve do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, a cessão de direito sobre o jogo.
O então governador José Roberto Arruda e o ex-secretário de Esportes Aguinaldo Silva de Oliveira, ao assinarem contrato com a empresa, segundo a investigação, ignoraram "a decisão da Procuradoria do Distrito Federal que considerou imprestável os motivos que justificaram o valor do espetáculo". Segundo o Jornal Nacional, a investigação estima que o rombo nos cofres públicos chegou a R$ 9 milhões, já que as despesas da partida foram pagas pela Federação Brasiliense de Futebol.
BBC inglesa denuncia
Foi ao ar no canal de TV inglês BBC uma reportagem mostrando que o presidente da CBF Ricardo Teixeira e o ex-presidente da Fifa João Havelange receberam propina da Fifa, pagas pela International Sports & Leisure (ISL), extinta agência de marketing esportivo que era responsável por negociar os direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo.
Segundo o programa da BBC, Ricardo Teixeira e João Havelange teriam feito um acordo na Justiça suíça em que concordaram em pagar uma multa de cerca de R$ 8,9 milhões para escapar de processo, aberto após a falência da ISL no início da década de 2000. A legislação suíça proíbe a divulgação de detalhes de acordos judiciais, mas um promotor da cidade de Zug quebrou esse sigilo.
A reportagem mostrou ainda que a Fifa tentou impedir a quebra do sigilo e a divulgação dos detalhes do processo, além de ter tentado impedir também a veiculação da reportagem feita pela BBC. Os autores da matéria tentaram ainda entrar em contato com Havelange e Teixeira, que se recusaram a responder à BBC.
A Fifa também se recusou a comentar o assunto, e o presidente da entidade, Joseph Blatter, negou que a entidade seja corrupta.
O escândalo vem à tona menos de duas semanas antes das eleições presidenciais em que Blatter concorre com o qatariano Mohamed Bin Hammam a um quarto mandato à frente da entidade.
ANTONIO CARLOS LACERDA é correspondente internacional do PRAVDA.RU
Timothy Bancroft-Hinchey