Na manhã do último sábado (29 de outubro), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve diagnosticado um câncer na laringe. Nesse mesmo dia, o usuário Anderson Moreira lançou uma campanha chamada “Lula, faça o tratamento pelo SUS!” na maior rede social do planeta, o Facebook.
O que o jovem não sabia era a amplitude que sua ação iria ganhar. Dois dias depois, a corrente para que o político tratasse sua doença pelo Sistema Único de Saúde já havia sido compartilhada por mais de 123 mil pessoas.
A grande maioria dos internautas disseminou a publicação sem fazer comentários. Contudo, outra parte daqueles que compartilharam a mensagem aproveitou para explicitar sua opinião, deixando bem claro que a campanha foi encarada como uma forma irônica de protesto contra a má administração da saúde no Brasil.
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA.RU
SÃO PAULO-BRASIL - No Brasil, o início do tratamento de câncer, tanto da rede de saúde pública como na privada, pode ser até de três meses. O caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi atípico, ele conseguiu, pelo prestígio, iniciar o tratamento em menos 48 horas após ser detectado o câncer na laringe.
Confira o passo-a-passo nas redes pública e privada.
Enquanto na rede pública o paciente com câncer enfrenta uma longa espera por consultas, exames e pelo tratamento contra a doença, na rede privada é preciso lidar com a espera pela autorização dos convênios e com a falta de cobertura para remédios oncológicos.
Rede pública
Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente deve ir até a unidade de saúde mais próxima de onde mora quando apresentar um sintoma ou queixa de saúde.
Caso esta unidade não tenha condições de dar um atendimento para o caso, ele será encaminhado para um ambulatório de especialidades ou para um hospital. Lá, ele será visto por um médico especialista na área, que vai pedir exames para comprovar a existência do câncer.
Segundo o oncologista Rafael Kaliks, do Instituto Oncoguia, este é o primeiro momento em que a pessoa pode enfrentar atrasos. 'Os pedidos são frequentemente recusados por falta de médicos e horários. O paciente pode esperar meses até conseguir uma consulta', diz.
A depender da região onde está, o paciente pode ser encaminhado diretamente para um hospital ou clínica que seja uma Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), capacitada para tratar os tipos de câncer mais comuns no Brasil, ou para um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), que pode tratar qualquer tipo.
Outra opção é que a pessoa seja encaminhada para um centro de excelência, como o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, ou o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Para ser aceito nestes locais, é preciso ter sido indicado por uma unidade que faça parte do sistema de referências do centro, que tem autorização para encaminhar pacientes para ele. Além disso, o paciente tem que apresentar os exames específicos que comprovem o câncer.
Em seguida, o paciente é cadastrado e passa por uma nova triagem, que determinará se ele necessita de tratamento oncológico naquele local.
No Inca e no Icesp, dois centros de referência no Brasil, o tempo de espera entre a triagem e a autorização para o início do tratamento chega a 30 dias, de acordo com os médicos.
A partir deste momento, o paciente começa a espera por uma vaga para os tratamentos de radioterapia, quimioterapia e cirurgia, que pode ultrapassar os três meses.
Rede privada
Ao apresentar sintomas, a pessoa deve ir ao ambulatório de um hospital na rede de cobertura do seu plano ou marcar uma consulta com um médico dessa mesma rede.
'Os convênios de saúde privados têm a obrigação de conseguir uma consulta para o paciente com câncer dentro do prazo de um mês. Por isso, caso não seja possível marcar com um ou mais médicos do plano dentro desse prazo, o paciente pode ligar para a empresa e exigir a consulta', diz Rafael Kalilks.
Após a consulta, o médico precisa pedir autorização para o convênio para realizar os exames. De um modo geral, a empresa tem até cinco dias úteis para autorizá-lo, mas esse prazo pode ser estendido por mais cinco dias caso a empresa peça 'informações adicionais' ao médico.
Depois dos exames, o convênio ainda precisará aprovar o tratamento indicado para o paciente. De acordo com o caso, o tratamento pode começar imediatamente depois da autorização ou em cerca de duas semanas.
No entanto, o paciente da rede privada ainda pode ter que enfrentar problemas durante o tratamento com remédios prescritos pelo médico, segundo Kaliks.
'Os convênios quase nunca cobrem a compra de medicamentos orais porque a ANS (Agência Nacional de Saúde) não exige que eles cubram. Mas cerca de 30% de todos os medicamentos do tratamento oncológico são por via oral, e esse número deve chegar a 80% nos próximos anos.'
Caso não possa pagar pelos remédios, que chegam a custar R$ 15 mil por mês, o paciente pode entrar na Justiça contra o Estado brasileiro. Mas em geral, o processo dura menos de um mês e é favorável ao paciente.
ANTONIO CARLOS LACERDA é correspondente internacional do PRAVDA.RU
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